Criando para o Diferencial

Por Dr Carmen L Battaglia

Tradução M.V. Maria Eduarda Bicca Dode

Versão original disponível em:

breedingbetterdogs.com/article/breeding-difference

A maioria das pessoas pensa e age dentro das estreitas limitações do que lhes foi ensinado no inicio da criação, sem nunca questionar as suposições básicas que compõem seu mundo enquanto criador. Como a tecnologia se tornou uma ferramenta ao alcance de todos os criadores, é importante, periodicamente, parar e observar se há desvio daquilo que valorizamos . Esta é uma área que nenhum criador pode ignorar, e ninguém deve se afastar do padrão de sua raça no momento de selecionar os padreados e as matrizes.

Todo criador sabe que existem problemas mais do que suficientes para se preocupar. A chave do sucesso é manter o foco para as questões importantes. Muitas vezes, os problemas de menor importância recebem mais atenção do que merecem. Na prática, nenhum criador pode se concentrar realisticamente em todos os problemas. Isso significa que escolhas precisam ser feitas. Nesse sentido, um dos piores dilemas ocorrerá quando um criador descobrir que não sabe quais são problemas em sua raça. Isto é seguido de perto por não saber quais problemas existem em seus pedigrees. Independentemente de qual problema pareça ser importante, quanto progresso um criador fará está ligado a sua habilidade de aprendizado.Três destaques: subestimar o padrão de sua raça, conhecer os modos de hereditariedade que afetam as características a serem eliminadas ou melhoradas , e saber quais são os pontos fortes e fracos que estão presentes em seus pedigrees. Nesse sentido, existem vários fatores que separam o sucesso do fracasso. Alguns saberão mais sobre os ancestrais em seus pedigrees do que outros. Geralmente serão aqueles que ocorrerão nas três primeiras gerações, porque eles contribuem mais para cada ninhada. Outros apenas estudam e usam campeões em seu programa de melhoramento. Isso ocorre porque eles são fáceis de perceber e todos apreciam um vencedor. Aqueles com o mínimo de experiência se concentrarão apenas na criação de cães com certificações de saúde (OFA, CERF, etc). Isso ocorre porque tais criadores não sabem como manejar os portadores de doenças. Há quem acredite que produzir um bom filhote de cachorro ou um campeão os torne bem-sucedidos. No final, a maioria desses motivos não será eficiente para mensurar nada, visto o que se sabe sobre métodos e genética de criação. Por exemplo, um bom filhote em uma ninhada com irmãos com faltas não é progresso. Pior ainda é quando os filhotes têm uma qualidade tão ruim, que a maioria deve ser vendida em contratos de castração ou em registros limitados.

Para saber se um criador pode fazer a diferença, comece examinando de perto as qualidades encontradas nas ninhadas que já produziu. Isso começa com os elementos principais (saúde, conformação e temperamento). Qualidade e solidez são as medidas comprovadas de progresso e são os fatores que farão a diferença. A este respeito, nem todos são iguais. Alguns criadores começam com cães de melhor qualidade do que outros. Alguns sabem mais sobre como escolher a melhor prole. Alguns sabem qual método de criação é mais adequado para cada pai e mãe. Alguns terão mais conhecimento e melhores habilidades de fazer contatos. Embora todos esses fatores sejam importantes, até que um criador entenda quais pontos fortes e fracos estão presentes em seus pedigrees, pouco pode ser feito. Na prática, todo cão tem algumas características que precisam ser melhoradas. Isso é verdade mesmo entre os melhores indivíduos. Faça esta pergunta: existe uma característica ou características que você gostaria de corrigir ou melhorar nos cães que está criando? Não basta conhecer o padrão da raça e quais características devem ser criticadas e desqualificadas. Para fazer um trabalho melhor, conheça os modos de hereditariedade para cada característica. O modo informa ao criador como uma característica será herdada. Porém, de todas as coisas que podem dar errado, uma dos piores situações é não saber se os problemas são causados por genes recessivos ou pelo manejo do cão.

Infelizmente, não há estimativas confiáveis para saber a frequência dos problemas que ocorrem em uma raça. Isso força cada criador a desenvolver sua própria lista de problemas com os quais se preocupar. Uma técnica conhecida por ser eficaz é começar com uma folha de papel com duas linhas verticais desenhadas de cima para baixo. Espace-os com largura suficiente para formar três colunas. Sobre a primeira coluna, escreva as palavras “Problemas na minha raça”. Nesta coluna, liste as características e doenças consideradas de maior importância para sua raça. Eles podem ser do tamanho, braço curto, olhos pequenos, temperamento ou doença(s) específica(s). Por exemplo, em dálmatas e pastores alemães, pode ser cor, temperamento, linha superior, parte superior do braço ou alguma doença. Em outras raças, pode haver proporções corporais, expressão, timidez, falta de angulações, etc. A lista pode ser longa, mas em todas as raças haverá pelo menos quatro problemas que são mais importantes que outros. Eles devem aparecer no topo da lista.

No topo das outras colunas restantes, escreva as palavras “Fraquezas – pedigree de: ______________”. Sobre cada coluna, o nome do padreador e o nome da matriz a ser cruzada. Sob cada um de seus nomes, liste as características que precisam ser aprimoradas com base no padrão da raça. No final de suas listas, adicione uma seção chamada “Pontos fortes”. Sob esse cabeçalho, liste as características que são consideradas seus pontos fortes com base no padrão da raça. Quando as duas colunas forem concluídas, os problemas e as prioridades de cada cão se tornarão aparentes. Essas três colunas agora se tornam o roteiro de itens para estudar e se preocupar. Essas listas também esclarecem quais informações devem ser coletadas sobre cada acasalamento. Ilustrada abaixo está a lista de um padreador e uma matriz.

Problemas na minha raça

Fraquezas – pedigree do Padreador: Ch. Win and Lose

Fraquezas – pedigree da Matriz: My Charm is Free

Linha superior pobre

Linha superior

Linha superior

Jarretes

Pigmentacao dos olhos

Propulsão e alcance

Falta de angulação de posterior

Comprimento de garupa

Falta de premolar

Braços curtos

Braços curtos

Problemas de Saúde

Pontos Fortes

Pontos Fortes

Displasia coxofemoral

Balanceado, propulsão e alcance

Proporção de cabeça

Torção gastrica

Bons pés

Pigmentação dos olhos e pelos

PRA

Cabeça excelente

Garupa e inserção da cauda correta

Cauda correta

Boa proporção de corpo

pigmentação correta

Dentição completa

Identificar problemas no papel primeiro ajuda a focar e orientar um programa de melhoramento, mantendo as coisas importantes em destaque. Também serve como lembrete de quais problemas estão presentes e quais devem ter prioridade. O exercício de escrever as coisas deve ser feito antes de tomar a decisão de usar um padreador ou matriz. Este exercício ajuda a esclarecer e destacar quais pontos fortes e fracos estão envolvidos entre os reprodutores. Também ajuda a identificar a diferença que existe entre eles. Se os pontos fortes e fracos dos reprodutores selecionados não se compensam, não faz sentido que ocorra o cruzamento. Faz menos sentido se preocupar em melhorar a qualidade ou cor da pelagem, se a estrutura, o temperamento ou a saúde são os problemas. No exemplo usado acima, observe que o pai e a mãe têm linhas superiores ruins. A menos que ambos possuam irmãos de ninhada e antepassados com as linhas corretas, seria difícil justificar essa criação porque é provável que concentrem os genes necessários para produzir uma ninhada com as mesmas linhas superiores ruins que seus pais.

Outro erro comum é enfatizar apenas uma característica. Aqueles que não consideram o cão total, ou seja, os principais traços (conformação, saúde e temperamento) descobrirão que, com o tempo, a qualidade de seus filhotes logo começará a mudar para a média da raça. Com o tempo, os filhotes mostrarão todas as variações encontradas em sua raça.

Em última análise, quanta mudança um criador fará em seu programa de criação estará diretamente relacionado a quão bem esses princípios são entendidos.

Referências

Battaglia, C. L. – “ Punnett Squares”, Canine Chronicle, Vol. 27, No 8. Pg. 188-120, 2003

Battaglia, C. L. – Breeding Better Dogs, BEI Publications, Fifth Edition, Atlanta, GA 1986

Bell, Jerold S. “Choosing Wisely”, AKC Gazette, August 2000, Vol. 117, Number 8, p-51.

Bell, Jerold, S. “Developing Healthy Breeding Programs”, Canine Health Conformance, AKC Canine Health Foundation, Oct. 15-17,1999. St. Louis MO.

Foley, C.W; Lasley, J.F. and Osweiler, G.D., “Abnormalities of Companion animals: Analysis of Heritabliliy”, Iowa University Press, Ames, Iowa, 1979

Hutt, Fred, Genetics for Dog Breeders, WH. Freeman Co., San Francisco, CA, 1979

Willis, Malcolm, Genetics of the Dog, Howell Book House, New York, New York, 1989

Willis, Malcomb, “Breeding Dogs” Canine Health Conference, AKC Canine health Conference, Oct. 15-17, 1999. St. Louis, MO.

Willis, Malcomb, “The Road Ahead”, AKC Gazette, August 2000, Vol. 117, number 8, p-47.

Sobre o autor

Carmen L Battaglia é Ph.D. e mestre pela Florida State University. Como árbitro, pesquisador e escritor do AKC, ele foi um líder na promoção da criação de cães melhores e escreveu muitos artigos e vários livros. Battaglia também é popular em shows de TV e rádio. Seus seminários sobre criação de cães, seleção de reprodutores e escolha de filhotes foram bem recebidos pelos clubes de criação em todo o país.

Tradução

Maria Eduarda Bicca Dode, Médica Veterinária e Doutoranda em Ciência Animal pela Universidade Federal de Pelotas – UFPel. Criadora da raça Australian Cattle Dog pelo afixo Sentinela Farrapo desde 2007. Árbitra pela Confederação Brasileira de Cinofilia – CBKC.

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